O seu verdadeiro nome era Hippolyte Léon Denizard Rivail. “Hippolite” em família, “Professor Rivail” na sociedade e “H-L-D. Rivail” na literatura, era desde os 18 anos, mestre colegial de Ciências e Letras e desde os 20 anos, renomado autor de livros didáticos. Suas obras espíritas foram escritas com o pseudônimo de Allan Kardec.
Destacou-se na profissão para a qual fora aprimoradamente educado na Suíça, na escola do maior pedagogo do primeiro quartel do século XIX, de fama mundial e até hoje paradigma dos mestres: João Henrique Pestalozzi. E em Paris, sucedeu ao próprio mestre.
Allan Kardec contava 51 anos quando se dedicou à observação e estudo dos fenômenos espíritas, sem os entusiasmos naturais das criaturas ainda não amadurecidas e sem experiência. A sua própria reputação de homem probo e culto constituiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do Espiritismo. Dois anos depois, em 1857, divulgava “O Livro dos Espíritos”. Em 1858 iniciava a publicação da famosa “Revue Spirite”. Em 1861 dava a lume “O Livro dos Médiuns”. Em 1864 aparecia “O Evangelho segundo o Espiritismo”; seguido de “O Céu e o Inferno” em 1865. Finalmente, em 1868 “A Gênesis Os Milagres e as Predições”, completava o Pentateuco do Espiritismo.
Na tarefa de codificação do Espiritismo, Allan Kardec contou com o valioso concurso de três meninas que se tornaram as médiuns principais no trabalho de compilação de “O Livro dos Espíritos”: Caroline Baudin, Julie Baudin e Ruth Celine Japhet. As duas primeiras foram utilizadas para a concatenação da essência dos ensinos espíritas e a última para os esclarecimentos complementares. Ultimada a obra e ratificados todos os ensinamentos ali contidos, por sugestão dos Espíritos, Allan Kardec recorreu a outros médiuns, estranhos ao primeiro grupo, dentre eles Japhet e Roustan, médiuns intuitivos, a senhora Canu, sonâmbula inconsciente, Canu, médium de incorporação; a sra. Leclerc, médium psicógrafa, a sra. Clement, médium psicógrafa e de incorporação, a sra. De Pleinemaison, auditiva e inspirada, sra. Roger, clarividente, e srta. Aline Carlotti, médium psicógrafa e de incorporação.
Escrevendo sobre a personalidade do mestre, o emérito Dr. Silvino Canuto Abreu afirmou o seguinte: “De cultura acima do normal nos homens ilustres de sua idade e do seu tempo, impôs-se ao geral respeito desde moço. Temperamento infenso à fantasia, sem instinto poético nem romanesco, todo inclinado ao método, à ordem, à disciplina mental, praticava, na palavra escrita ou falada, a precisão, a nitidez, a simplicidade, dentro dum vernáculo perfeito, escoimado de redundâncias.
Pelo seu profundo e inexcedível amor ao bem e à verdade, Allan Kardec edificou para todo o sempre o maior monumento de sabedoria que a Humanidade poderia ambicionar, desvendando os grandes mistérios da vida, do destino e da dor, pela compreensão racional e positiva das múltiplas existências, tudo à luz meridiana dos postulados do Cristianismo.
Filho de pais católicos, Allan Kardec foi criado no Protestantismo, mas não abraçou nenhuma dessas religiões, preferindo situar-se na posição de livre pensador e homem de análise. Compungia-lhe a rigidez do dogma que o afastava das concepções religiosas. O excessivo simbolismo das teologias e ortodoxias, tornava-o incompatível com os princípios da fé cega.
Situado nessa posição, em face de uma vida intelectual absorvente, foi o homem de ponderação, de caráter ilibado e de saber profundo, despertado para o exame das manifestações das chamadas mesas girantes. A esse tempo o mundo estava voltado, em sua curiosidade, para os inúmeros fatos psíquicos que, por toda a parte, se registravam e que, pouco depois, culminaram no advento da altamente consoladora doutrina que recebeu o nome de Espiritismo, tendo como seu codificador, o educador de Lyon.
O Espiritismo não era, entretanto, criação do homem e sim uma revelação divina à Humanidade para a defesa dos postulados legados pelo meigo Rabi da Galiléia, numa quadra em que o materialismo avassalador conquistava as mais pujantes inteligências e os cérebros proeminentes da Europa e das Américas.
A primeira sociedade espírita regularmente constituída foi fundada por Allan Kardec, em Paris, no dia 1o. de abril de 1858. Seu nome era “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas”. A ela o codificador emprestou o seu valioso concurso, propugnando para que atingisse os objetivos para os quais foi criada.
Allan Kardec é invulnerável à increpação de haver escrito sob a influência de idéias preconcebidas ou de espírito de sistema. Homem de caráter frio e severo, observava os fatos e dessas observações deduzia as leis que os regem.
A codificação da Doutrina Espírita colocou Kardec na galeria dos grandes missionários e benfeitores da Humanidade. A sua obra é um acontecimento tão extraordinário como a Revolução Francesa. Esta estabeleceu os direitos do homem dentro da sociedade, aquela instituiu os liames do homem com o universo, deu-lhe as chaves dos mistérios que assoberbavam os homens, dentre eles o problema da chamada morte, os quais até então não haviam sido equacionados pelas religiões. A missão do mestre, como havia sido prognosticada pelo Espírito de Verdade, era de escolhos e perigos, pois ela não seria apenas de codificar, mas principalmente de abalar e transformar a humanidade. A missão foi-lhe tão árdua que, em nota de 1o. de janeiro de 1867, Kardec referia-se às ingratidões de amigos, a ódios de inimigos, a injúrias e a calúnias de elementos fanatizados. Entretanto, ele jamais esmoreceu diante da tarefa.
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